Todo ato insano tem em si sua razão de ser

Eis minhas loucuras, transfiguradas em letras e caracteres estranhos numa combinação muitas vezes sem sentido, malucas e desconexas, um amontoado geral de coisas sem valor algum, às quais dou o nome de distonâncias inconsequentes...

22.3.07

"Recortante"

todos os beijos que estavam guardados a você, só a você
beijos que escondiam-se atrás de cortinas de nuvens e véus
beijos que não estavam em mim, só em você haviam o motivo de tal surgimento
beijos que em noites de chuva lambiam janelas em formas de lágrimas esperando sua presença
beijos que minha boca guardou só para ti
e você sob o arco da sacada, banhada pela lua contemplava de longe a seiva de mim que regava todo o chão
não eras em mim que pensavas quando corrias descalço pelos campos úmidos da relva
quem sabe era ela a sua doce amada
por quem me abandonaste
talvez tenha partido
mas meu coração aguarda a seu lado pelo meu retorno
aquela lua levava a você meu pensamento, então arrependido clamavas de volta o meu amor por ti
não era tarde seu clamor
aquela que me levaste de você partiu e como eu, te abandonou
então volvi sobre penhascos e rochedos e retornei a seu encontro
nunca será tarde enquanto procurar por ti entre os cacos do espelho da vida, despedaçada atrás de mim
foi preciso
tinha que marcar o caminho para voltar
eis-me aqui lânguida e sua
eis-me aqui a te desejar como antes
eis-me a perdoar-te todas vezes que teu engano para longe de mim te levar
mas ingênuo não percebi que a que me guiava era reflexo do que ficou
cristais de lua agora brilham
mesmo que em fragmentos distorcidos
iluminam o caminho
e me levam a teu leito
de onde nunca devia ter saído
mesmo que lágrimas azuis deslizem de sua face
eis o mistério de meu amor, nada resta inteiro
mas o brilho permanece em nossos olhos
rubras lágrimas juntam os cacos
e a luz com raios vermelhos vivenciam nossos pedaços de nós
de seus olhos que não brilham mais
não esperam
observam descrentes
os passos perdidos na areia
tortos
cambaleantes
a dor de mágoa inflama e deixa turva tua alma
pobre mortal que em pedaços se parte diante do abismo
raízes de solo árido e estéril
e conta com as asas que há muito lhe foram retiradas
aceite que caíste
teu corpo sem amor já não suspira
contorce de amor
em gozo eterno
dormes
por que dormes
já não olhas mais para meu corpo
por que me atira as feras
não vives mais meus pedaços
teus pecados não têm mais graça
peco em pensamentos porque já não feres mais a carne
são como os outros
apodreço em vendavais
sentimentos de ódio e amor
em vida passageira
minha alma tende ao infinito não voltar
ela se vai sem retorno e sem você
pq não clamas por mim
pq meu corpo ainda te deseja
desvenda os segredos de minha alma
corta-me os pulsos e me deixa
mesmo insana te amo
mesmo lúcida te amo
mesmo enferma te amo
mesmo sana te amo
mesmo morto te amo
.