Todo ato insano tem em si sua razão de ser

Eis minhas loucuras, transfiguradas em letras e caracteres estranhos numa combinação muitas vezes sem sentido, malucas e desconexas, um amontoado geral de coisas sem valor algum, às quais dou o nome de distonâncias inconsequentes...

27.4.06

No divã (¿)

Todas as noites me lembro daquele dia como se o estivesse vivendo novamente. Estou paralisado, atônito... aquela criatura corre em minha direção... meu pai se joga á minha frente detendo aquele ataque mortal e jogando o lobo para o lado... ainda sinto as cicatrizes queimando e meu coração gelado sempre que ouço um uivo... mas eram dois os lobos, tentando soltar o filhote preso e ferido "acidentalmente" em nossa armadilha... meu pai, assim como os lobo, estava apenas defendendo sua cria... era o homem mais forte e corajoso que conheci, mas um lobo apenas já seria mortal... nunca esquecerei as palavras de meu pai agonizando em meus braços: "Asgard, não deixe que o filhote morra, ele não tem culpa por meu erro."; poucos dias depois ele morreu, os ferimentos foram muito profundos, foi um milagre ele não ter morrido na floresta... era um aviso de Gaia para nós, para não usarmos armadilhas... eu tinha 10 anos naquela época e estava aprendendo a caçar... destrinchar a carne e curar o couro havia aprendido primeiro e já estava acompanhando papai às caçadas há cerca de 4 meses... o filhote se recuperou dos ferimentos e em 2 meses o soltei na floresta... não sei o que ele pode pensar sobre o que aconteceu, mas ele nunca se afastou muito de nossa casa, estava sempre por perto... me sinto culpado e sempre que percebo que a caça está fraca ou o vejo muito magro, deixo parte do que cacei para ele... em seu olhos vejo a vontade de vingar os pais mortos mas ao mesmo tempo uma certa gratidão por tê-lo salvado a vida... por várias vezes nos deparamos na floresta... é fácil reconhece-lo pelas marcas nas patas e uma cicatriz no focinho... ele rosnando e pronto para atacar enquanto eu novamente paralisado... no entanto ele parece me ignorar e se afasta... quando finalmente consigo me mexer... armadilhas não uso mais e após o incidente com nossa família, o conselho dos druidas proibiu seu uso, acatando o desejo de Gaia... precisamos nos alimentar, mas armadilhas não escolhem seu alvo e atingem filhotes... hoje há cotas de caça para que não cacemos em excesso e apenas adultos podem ser caçados... cada família tem controle por uma área... a nossa não é muito grande, mas abriga um córrego e está cercada por áreas comuns, onde a caça não é permitida... claro que alguns caçadores ainda usam armadilhas, mesmo nas áreas comuns... são uns bárbaros... por isso sempre destruo toda armadilha que encontro... alguns não gostam muito de mim por causa disso, mas a lei está do meu lado... certa vez fui atacado por um caçador quando destruía sua armadilha, por sorte um lobo, aquele lobo, apareceu e o assustou... apesar de tudo ele parece gostar de mim... fazem 5 anos que meu pai morreu... o lobo cresceu forte e hoje é dominante na área que era dominada por seus pais... mamãe ainda prepara toda a carne, mas parte desse trabalho ela já me ensinou, assim logo também poderei ajuda-la... ahh a Carem, ela é a segunda filha do padeiro... moça linda e formosa... é um pouco mais nova mas nos conhecemos desde crianças... seu pai não gosta muito de mim, mas um dia serei forte o bastante e digno de sua filha... brincávamos junto depois da aula... todas as crianças tinham aula até os 12 anos... lá aprendíamos a ler e escrever e também mais sobre Gaia... era ensinado sobre respeito a todos e que todos nós temos nossa função na sociedade... os Druidas estão em contato mais próximo a Gaia e nos falam seus desejos (de Gaia), são eles que fazem as leis... são poderosos, de famílias muito antigas... há ainda a guarda, os soldados que garantem nossa segurança contra os Ogros, criaturas más e muito fortes que vivem longe mas muitas vezes tentam roubar nossas casas e nos matar para comer... somos muitos e cada um tem sua função, uns nos guiam da mesma forma que Agna fez no passado... dize quem ela era muito bonita e poderosa... guiou nossos antepassados até aqui, vencendo perigos e monstros para fundar nossa cidade... somos uma comunidade onde todos se ajudam de alguma forma... eu por exemplo, caço, assim temos couro para roupas, peles para ns proteger do frio e carne para nos alimentar, os pais de Carmer produzem pão e com o que sobra de seus cereais, Mantis faz uma bebida... assim vivemos... sonho em ser como Servante, ele é um caçador que hoje mora entre os druidas... se casou com Silvana... dizem que já matou dinossauros, um tipo de lagarto muito grande e que come gente... também quero ajudar a proteger nossa cidade dos ogros... quem sabe assim poderei morar sobre as árvores também...